Patrícia Galvão - Pagu
- Larissa Mancia
- 26 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 5 minutos
A Musa Ativista
Ela foi uma intelectual, cronista, romancista, correspondente internacional, militante, presa política, feminista e modernista.
Desde jovem, Pagu já mostrava irreverência: participava de brincadeiras consideradas para meninos, pulava os muros da escola e, na adolescência, chocava com seu batom escuro e atitudes ousadas. Com 15 anos, ela morou por um tempo em uma vila de operários no Brás, e esse foi seu primeiro contato com a realidade proletária. Com dezoito anos, começou a frequentar a turma dos modernistas, onde conheceu Oswald de Andrade, que lançou o movimento antropófago do qual ela foi eleita a musa.
Antonieta de Barros por Galeria da Lalo e Antonieta/ Museu da Escola Catarinense / UDESC
Em 1930, Pagu casou-se com Oswald e juntos tiveram um filho, Rudá. Um mês depois de ganhar o bebê, a vida política de Pagu começou a ganhar novos contornos. Como ativista política, ela acompanhou as manifestações decorrentes da Revolução de 1930.

Em dezembro, foi para Buenos Aires, sua primeira viagem internacional, para um congresso de escritores onde teve contato com autores como Jorge Luis Borges e com livros marxistas e material comunista. Na época, ela deixou o bebê com Oswald e foi muito criticada por isso.
Seu interesse pelo marxismo passou para Oswald e juntos começaram a frequentar o Partido Comunista Brasileiro e criaram o jornal "Homem do Povo". Com esses movimentos, despertaram o ódio das elites, sofrendo inúmeros processos e acabaram indo para o Uruguai. Após voltarem ao Brasil e mesmo muito ativos politicamente, Pagu não era bem vista pelo partido por não ser proletária. Ela entregou panfletos, leu livros, pichou muros e até subiu em um palanque para discursar em 1931. O discurso foi interrompido por tiros e, com fama de agitadora, Pagu foi detida.
Depois de solta, viveu com Oswald como foragida até ser convocada novamente pelo partido. Durante esse período, escreveu "Parque Industrial", o primeiro romance proletário do Brasil, publicado em 1933 sob o pseudônimo de Mara Lobo. Mas nem assim agradou ao partido, que não gostou das passagens de abuso sexual sofrido pelas operárias. Nesse sentido, ela recebia apenas missões humilhantes do partido que envolviam traição de amigos e sexo. Rebelou-se e recebeu um aviso para ir embora do país. Aos 23 anos, Pagu deu início a uma viagem à Rússia, passando por diversos outros países e entrando em contato com a realidade operária desses locais.

Filiou-se ao Partido Comunista Francês enquanto trabalhava como tradutora e jornalista. Em uma manifestação de rua, acabou sendo ferida, detida como comunista e deportada no final de 1935.
De volta ao Brasil, separou-se de Oswald e foi presa. Fugiu da cadeia em 1937, mas foi capturada novamente e foi torturada, espancada e imensamente maltratada. Saiu da prisão em 1940, aos 30 anos.
Casou-se novamente e teve mais um filho, Geraldo. Continuou sua carreira como jornalista e também escreveu poemas, contos policiais, peças de teatro e traduziu livros.
Ela foi diagnosticada com câncer e morreu com o avanço da doença em 1962.
Ela foi uma mulher à frente de seu tempo, um espírito livre que desafiou convenções sociais, políticas e literárias numa época em que poucas mulheres ousavam fazê-lo. Sua trajetória turbulenta e corajosa a consolidou como uma das figuras mais importantes do modernismo brasileiro e do movimento feminista nacional.
Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]
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