Indianara Siqueira
- Larissa Mancia
- 13 de nov.
- 2 min de leitura
Uma Mulher com seu Nome
Ela é ativista de direitos humanos, coordenadora da ONG carioca Trans-Revolução e idealizadora de projetos como a Casa Nem e o Prepara Nem, dedicados a pessoas em situação de vulnerabilidade. Líder da comunidade transvestigênere, a paranaense Indianara Siqueira enveredou-se na carreira política para lutar pelo que acredita. Sua história de vida poderia ter sido marcada pela exclusão social, mas se tornou sinônimo de educação e transformação.
A infância no litoral do Paraná foi marcada pelos problemas financeiros da família e, desde cedo, ela não se identificava com as características restritas ao sexo masculino, associado ao seu nascimento. Aos doze anos, começou a tomar um anticoncepcional com altas doses de hormônios femininos. Aos dezesseis, saiu de casa. Era a década de 1980, e a expectativa de vida de uma transvestigênere era de 25 anos. Ela viveu um pouco de tudo: dormiu na rua, fez novas amizades, alimentou-se do que caía do caminhão do mercado, trabalhou como pizzaiola, ajudante de pedreiro, babá e prostituta, e foi torturada por policiais. No começo dos anos 1990, ainda no auge da epidemia da AIDS, começou a militar publicamente pela prevenção da síndrome e de doenças sexualmente transmissíveis. Para isso, fundou o grupo Filadélfia de Travestis, em Santos, e participou de inúmeras iniciativas em prol da saúde.
Indianara por Galeria da Lalo e Indianara/ Wikipedia
Um dos momentos mais inesquecíveis de seu trabalho ocorreu em 1996, quando o Grupo Filadélfia colocou em pauta, durante a IV Conferência Municipal da Saúde de Santos, o reconhecimento do nome social para transvestigênere. Foi a primeira vez que isso aconteceu oficialmente no Brasil. Foi reivindicado ainda que casais homoafetivos fossem considerados cônjuges no prontuário médico e que as transvestigênere pudessem ser internadas na ala feminina dos hospitais. As três demandas foram aprovadas. Os esforços de Indianara ganharam atenção da mídia, oportunidade que ela usou para denunciar, mesmo que sem resultados, os policiais que a agrediram e humilharam em sua comunidade.
Em 2016, ela se candidatou a vereadora nas eleições municipais do RJ; o nome que aparecia na urna eletrônica era Indianara Siqueira, seu nome social. Ela recebeu 6.166 votos e tornou-se vereadora suplente.
Um dos maiores símbolos de sua atuação é a organização independente Casa Nem, que funciona como lar, centro educativo e cultural para a população LGBTQIA+. O local oferece serviços terapêuticos, assistência social, comida, roupas e atendimento jurídico e médico por meio de parcerias com voluntários, além de cursos de modelagem, corte e costura, alfabetização e fotografia, em uma programação que proporciona independência e autoestima. Foi lá que nasceu também o Prepara Nem, um cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio.

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Indianara não se intimida com as estatísticas e permanece na luta pelos direitos humanos.
Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]








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