Carmen Portinho
- Larissa Mancia
- 9 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de jul.
A Construtora de Modernidade
Nascida em Corumbá, uma das principais cidades do Pantanal, Carmen Portinho foi uma renomada engenheira que ampliou o conceito de habitação popular no Brasil. Ela esteve à frente de importantes construções arquitetônicas em nosso país e sempre lutou pela igualdade de gênero na educação e no trabalho.
Ainda adolescente, Carmen participou ativamente do movimento sufragista ao lado de Bertha Lutz e, juntamente com ela, foi uma das fundadoras da Federação Brasileira de Progresso Feminino. Militante fervorosa pelos direitos das mulheres, chegou a distribuir panfletos em defesa do sufrágio no Rio de Janeiro, utilizando um avião.
Carmen Portinho por Galeria da Lalo e Carmen / crédito: portinari.org.br
Em sua formação acadêmica, ela conquistou feitos importantes para a emancipação feminina. Quando cursava o último ano de Engenharia, começou a dar aulas no Colégio Pedro II. A presença de uma mulher como professora em um internato masculino gerou revolta e indignação. Carmen foi alvo até do Ministro da Justiça, que tentou interferir em sua nomeação, mas sem sucesso.
Em 1925, ela se tornou a terceira mulher a se formar em Engenharia Civil no país e logo se tornou também a primeira urbanista brasileira a concluir o curso de pós-graduação no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal (na época, RJ).
Formatura de Carmen Portinho, a primeira sentada à esquerda / O Paiz, 30 de abril de 1926 e matéria sobre criação da União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos. / A Noite, 14 de janeiro de 1929
Apesar de sua competência, Carmen não escapou do preconceito e do machismo. Trabalhando desde 1926 na Diretoria de Obras e Viação do Distrito Federal, ela estava subordinada a um chefe que menosprezava seu trabalho. Carmem decidiu reclamar ao então presidente Washington Luís, que recebia a população em audiências públicas. Em pouco tempo, ela foi promovida e completou sua primeira construção, uma escola no subúrbio carioca. Em 1937, fundou e se tornou a primeira presidente da Associação de Engenheiras e Arquitetas, que incentivava o ingresso das mulheres na área.

Em 1945, Carmen recebeu uma bolsa de estudos para participar da comissão de reconstrução e remodelagem das cidades inglesas que haviam sido destruídas durante a Segunda Guerra Mundial. Essa experiência foi decisiva para seu interesse pela habitação popular. Ao retornar ao Brasil, propôs a criação de um departamento de habitação popular na Prefeitura do Rio, com o intuito de enfrentar os problemas de moradia causados pelo crescimento desordenado dos municípios.
A ideia foi aceita, e Carmen assumiu a diretoria do departamento até 1960. Durante sua gestão, foi responsável pela construção do icônico conjunto habitacional Pedregulho. Outro ícone de arquitetura, projetado por seu marido, Reidy, e construído por ela, foi o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). Desde 1951, Carmen fazia parte da diretoria e trabalhava arduamente para que a instituição tivesse uma sede definitiva; as obras iniciaram em 1954, com ela sendo a única mulher em um canteiro de obras gigantesco.
Conjunto Residencial Pedregulho, 1947. /Foto Arquivo Carmen Portinho.
Conjunto Residencial Pedregulho – implantação. /Imagem Catálogo Affonso Eduardo Reidy (PUC/RJ)
Em 1967, foi convidada para assumir a diretoria da recém-criada Escola Superior de Desenho Industrial. Nessa época, chegou a desafiar a ditadura, impedindo que a polícia invadisse a escola. Próxima de completar um centenário, Carmen continuava seu trabalho como assessora no Centro de Tecnologia e Ciências do Rio de Janeiro e participava ativamente de júris de arte.
Faleceu aos 98 anos, deixando um legado inestimável mostrando que a força e a criatividade feminina são fundamentais para a construção de um futuro mais inclusivo e quebrou barreiras em um campo dominado por homens, tornando-se uma fonte de inspiração para futuras gerações de engenheiras e arquitetas.
Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]
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