Carolina Maria de Jesus
- Larissa Mancia
- 17 de jul.
- 2 min de leitura
A voz da Favela
Uma mineira, catadora de papel e mãe solteira de três filhos. Negra e com poucas oportunidades, estudou apenas dois anos na escola, mas foi tempo suficiente para aprender a ler e escrever, e isso mudaria sua vida para sempre.
Carolina Maria de Jesus por Galeria da Lalo e Carolina/ crédito: www.letras.ufmg.br
Carolina morava na favela do Canindé, em São Paulo, e no ano de 1955 começou a escrever um diário para, em suas palavras, "esquecer a fome". Ela escrevia em cadernos que recolhia do lixo e jamais imaginou que um dia esses escritos ganhariam o mundo. No final da década de 50, um repórter chamado Audálio Dantas foi à favela do Canindé com a tarefa de relatar o cotidiano dos moradores. Ele viu Carolina escrevendo em seu diário, o que despertou sua curiosidade. Leu os manuscritos e, a partir de então, virou defensor de sua publicação.
Carolina na favela do Canindé e Carolina caminhando ao lado de Audálio Dantas em 1950
Fotos: Acervo Audálio Dantas
Mais de seis editoras já haviam recusado as páginas que foram datilografadas por Audálio, até que a Livraria Francisco Alves Editora aceitou lançar "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada". O livro saiu em agosto de 1960 com uma tarde de autógrafos de enorme sucesso, na qual foram vendidas seiscentas cópias autografadas, número que superava o de autores como Jorge Amado. Foi um dia inesquecível, pois foi a primeira vez que Carolina e seus filhos conseguiram, num mesmo dia, almoçar, jantar e vestir roupas novas.
Mesmo não respeitando a norma culta da língua portuguesa, o livro de Carolina se tornou um best-seller, traduzido para mais de dez idiomas e vendido em mais de 40 países. Carolina realizou seu sonho de sair da favela e morar em uma casa de alvenaria. Depois vendeu a casa e comprou um sítio em Parelheiros. Entusiasmada com o sucesso, ela se aventurou também na música, lançando um disco no ano seguinte e, em 1963, mais dois livros: "Provérbios" e "Pedaços da Fome".

Carolina representa um marco fundamental na literatura brasileira ao dar voz àqueles que historicamente permaneceram silenciados. Sua obra inaugurou a literatura de periferia, oferecendo uma perspectiva autêntica sobre a pobreza urbana e trouxe para o centro do debate questões de gênero, raça e classe social.. Mais do que uma escritora, ela foi uma precursora que abriu caminhos para outras vozes periféricas, provando que a arte pode emergir de qualquer lugar
Catei papel, revirei lixo. Do papel também tirei meu alimento: a escrita.
Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]
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