Dona Ivone Lara
- Larissa Mancia
- 1 de out.
- 3 min de leitura
A Mãe do Samba
Negra, mãe e trabalhadora, Ivone Lara abriu passagem para a força do feminino no samba. Dona de uma voz e de uma presença inconfundíveis, tornou-se a primeira mulher na história do samba a se consagrar como cantora e compositora. Sua jornada de superação e bravura ajudou a ampliar a participação feminina na formação da identidade cultural brasileira.
Nascida Yvonne da Silva Lara, um de seus primeiros contatos com a música foi com a esposa do maestro Heitor Villa-Lobos, Lucília, que era professora de música no internato do colégio onde estudou. No ambiente familiar, sua mãe cantava no tradicional rancho carnavalesco Flor do Abacate, e seu pai, além de mecânico de bicicletas, era violonista e componente do Bloco dos Africanos. Nas férias, ela estava sempre em meio aos sambistas e chorões. O ritmo de seus primeiros anos de vida mudou de repente. Ainda na infância, Ivone ficou órfã e foi adotada pelo tio Dionísio, com quem aprendeu a tocar cavaquinho.
Dona Ivone Larapor Galeria da Lalo e Dona Ivone Lara/ VejaRio
Em meados de 1940, mudou-se para o bairro de Madureira, conhecido como "O berço do samba". Foi um período muito intenso em sua vida, pois ela se formou em enfermagem e assistência social, especializando-se em terapia ocupacional e chegou a trabalhar com a psiquiatra Nise da Silveira, no Serviço Nacional de Doenças Mentais. Em 1947, casou-se com Oscar, filho do presidente da escola de samba Prazer da Serinha. O comando da família de Oscar gerava insatisfação e discórdia entre os integrantes da agremiação. A desavença acabaria originando a Império Serrano, escola na qual Ivone faria sua fama. Ela já compunha antes disso, mas apresentava os trabalhos como se fossem de seu primo, também compositor, para que suas peças tivessem mais chances de serem aceitas.
(foto esquerda) Ivone Lara, cantora e compositora em 1981 por Adalberto Diniz/Dedoc. (foto direita)Dona Ivone Lara. Fotógrafo não identificado/Coleção José Ramos Tinhorão/ Acervo IMS
No mesmo ano de fundação da escola, Ivone fez o samba com o qual desfilou, "Nasci para Sofrer", enquanto ainda trabalhava no hospital do qual se aposentou no final da década de 1970. "Os Cinco Bailes Tradicionais da História do Rio", de 1965, composto por ela, foi o primeiro samba-enredo de uma escola de elite do carnaval carioca a ser assinado por uma mulher. Em 1970, gravou seu primeiro disco, "Sambão 70", e começou a usar o nome artístico de Dona Ivone Lara. Ela ganhou e foi homenageada em diversas premiações, entre elas o Prêmio Shell de Música em 2002, pelo conjunto de sua obra; o Prêmio da Academia Charles Cros em Paris pelo álbum "Nasci para Sonhar e Cantar"; e a Medalha Pedro Ernesto em 1999.
Ela lançou mais dez discos e, apesar de nunca ter sido sucesso de vendas, suas músicas foram interpretadas por ícones da MPB como Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 2016, ano em que se comemorou o centenário do Samba, ela recebeu a Ordem do Mérito Cultural. Ivone faleceu dois anos depois, em 2018, com 96 anos de idade.

Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]
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