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Bertha Lutz

A Bióloga que Lutou pelo Voto

Ela poderia ter sido apenas a filha do famoso cientista brasileiro Adolfo Lutz, o fundador da medicina tropical no país. Mas Bertha Maria Julia Lutz não ficou à sombra de seu pai e entrou para a história como uma das mais importantes feministas do Brasil. Sua luta mudou significativamente o papel da mulher na política. Sem ela, talvez o voto feminino e a igualdade de direitos políticos não fossem realidade.


Bertha nasceu em São Paulo em 1894. Seu pai não confiava na qualidade da educação superior no Brasil e, por isso, Bertha foi enviada para terminar os estudos na Europa, ainda adolescente. Curiosa e boa aluna, ela cursou biologia em Paris e foi ali que duas de suas paixões ganharam corpo: a Ciência e o Feminismo.


Graziela Barroso por Galeria da Lalo e Graziela Barros / JBRJ


No início do Século XX, a Europa fervia com o movimento sufragista. Quando Bertha voltou ao Brasil em 1918, trouxe, além de seu diploma, uma cabeça cheia de ideias. Sua principal arma eram os argumentos. Bertha era boa com palavras e, como feminista, seu primeiro ato público foi divulgar uma carta na Revista da Semana, uma resposta a um jornalista que acreditava que o movimento sufragista não tinha nada a ver com as brasileiras.


Bertha convidou outras mulheres a se organizarem em associações de luta pelos seus direitos, começava assim um importante capítulo do movimento sufragista no Brasil, do qual Bertha foi a maior representante. Para ela, as mulheres não só precisavam ter direito ao voto e aos cargos políticos, mas também ao trabalho e à educação para se livrar da dependência dos homens.


Ela mesma era financeiramente independente e nunca se casou, algo bastante incomum para seu tempo.

Em 1919, Bertha prestou concurso para o Museu Nacional do Rio de Janeiro e trabalhou lá por quatro décadas, desenvolveu importantes pesquisas, principalmente relacionadas a anfíbios, e ganhou reputação internacional como cientista e defensora dos museus e da educação feminina.


Bióloga, feminista, ativista política, musicista, poeta e preocupada com o ensino, a natureza e a igualdade no trabalho, Bertha desempenhou muitos papéis e viajou o mundo para conciliar todos eles, lutando por causas ainda hoje atuais, como a igualdade salarial entre homens e mulheres.


Aos 25 anos, fundou, juntamente com outras mulheres, a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher, uma semente para a criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Em 1922, a entidade presidida por Bertha tinha como sua principal bandeira o voto feminino. Mesmo com petições e coletas de assinaturas, o voto não era aprovado. Bertha decidiu então cursar Direito para ampliar suas armas. Um ano antes de se formar, viu seu desejo realizado: em 24 de fevereiro de 1932, um decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas permitiu o voto feminino facultativo. As francesas, por exemplo, só conseguiram esse direito em 1944!

Mas faltava muito à conquista, inclusive o direito de ser eleita para um cargo político. Com a FBPF colocando constante pressão, essa veio um pouco depois com a Constituição de 1934, que instituiu a igualdade de direitos políticos. Bertha exerceu esse direito ao se candidatar a uma vaga de deputada federal. Entre as muitas batalhas que queria travar no Congresso, estavam a ampliação da licença-maternidade de trinta dias para três meses e a redução da jornada de trabalho, que era de 13 horas. Bertha não obteve a quantidade de votos, mas ficou como primeira suplente, assumindo a cadeira do deputado Cândido Pessoa, que morreu em 1936. Infelizmente, ela não teve tempo de fazer muita coisa, pois veio o Estado Novo em 1937, fechando o Congresso e retirando o voto de todos os brasileiros. Bertha voltou para o Museu Nacional, onde permaneceu até ser aposentada compulsoriamente pela ditadura militar instituída em 1964.


O legado de Bertha Lutz revela que a verdadeira revolução se faz com inteligência, conhecimento e estudo. Sua trajetória demonstra que o saber é a mais poderosa das armas contra a ignorância e a desigualdade. Através da ciência e da eloquência, Bertha transformou o silêncio imposto às mulheres em um poderoso discurso de emancipação. Sua vida nos ensina que a caneta, quando empunhada com paixão e propósito, pode ser mais revolucionária que qualquer espada.




Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]

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