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Georgina de Albuquerque

Atualizado: 26 de mar.

A Mulher do outro lado da Tela



Até o início da Arte Moderna, pouquíssimas mulheres puderam se dedicar às mais variadas formas de expressão artística. Entre as várias razões para isso, predominava o pensamento de que caberia ao sexo feminino apenas um papel submisso, como objeto a ser retratado, jamais como sujeito. No Brasil, Georgina de Albuquerque mostrou que esse pensamento era um grande erro. Ela teve que superar obstáculos para conquistar seu lugar entre os grandes pintores brasileiros. Estudou e transitou entre os mais diferentes estilos, tornando-se a primeira mulher a dirigir a Escola Nacional de Belas Artes.


Georgina de Albuquerque por Galeria da Lalo e Georgina de Albuquerque pelo site ArteRef


Nascida no interior de São Paulo, desde criança gostava de desenhar e, incentivada pela mãe, durante a adolescência teve aulas com o pintor italiano Rosalbino Santoro. Decidida a se tornar pintora, aos 17 anos enviou um quadro de sua autoria para a ENBA (Escola Nacional de Belas Artes), no Rio de Janeiro. O quadro foi considerado tão bom que acreditaram tratar-se de uma cópia.


Ela não deixou por menos: viajou ao Rio de Janeiro e deu um jeito de se encontrar pessoalmente com um dos professores que haviam julgado seu quadro. Para provar que não era copista e merecia entrar na escola, fez um retrato dele. Foi então aceita, iniciando formalmente sua educação artística. Em 1906, já casada, seu marido, também artista, ganhou uma bolsa de estudos em Paris, e o casal se mudou para lá. Na França, Georgina continuou frequentando instituições de prestígio, como a École des Beaux-Arts e a Académie Julian, que se destacou como a primeira escola de arte do mundo a oferecer às mulheres aulas de modelo vivo.


Georgina teve três filhos, porém um deles morreu ainda criança. Ela não permitiu que a maternidade afetasse sua carreira, tendo declarado que não deixou de trabalhar nem um só dia, mesmo quando seus filhos eram pequenos.


Quadro Família de georgina de albuquerque, casal andando junto com um bebe de colo em pinceladas impressionistas
Quadro Família - Georgina de Albuquerque

A família retornou ao Brasil em 1912. Georgina pintava e desenhava com frequência. Nessa época, ganhou duas medalhas de prata na Exposição Geral de Belas Artes (em 1912 e 1914), que era o evento mais importante das artes plásticas no país. Na edição de 1919, consagrou-se com a medalha de ouro pelo quadro "Família". Assim, tornou-se a primeira brasileira a ser reconhecida como uma grande pintora, além de ser a primeira mulher a realizar com destaque tudo o que um pintor de formação clássica poderia fazer. O fato de isso ter ocorrido por volta de 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna, é bastante simbólico, pois Georgina abriu caminho para outras pintoras modernas, como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.



Georgina tinha consciência de que vivia em um tempo "em que a mulher não tinha os mesmos direitos do homem", como ela mesma dizia. Entretanto, com seu talento e determinação, lutou pelo espaço das mulheres que, de musas, passaram a ocupar com mais frequência o outro lado da tela.



CURIOSIDADE

No centenário da Independência do Brasil em 1922, Georgina trouxe uma grande inovação. Até então as pinturas históricas - representação de momentos históricos em quadros de grandes dimensões - ainda era considerado o gênero de maior prestígio e dominado por homens. Georgina criou a tela Sessão do Conselho de Estado, obra em que ousou não só ingressar nesse estilo de pintura como também subverteu o gênero. Em geral as telas históricas traziam cenas heroicas e com figuras masculinas. Seu quadro porém reproduz uma cena de uma reunião na qual seria tomada a decisão de separar o Brasil de Portugal e nessa reunião temos como protagonista uma mulher, A princesa Maria Leopoldina.

Quadro Sessão do conselho de Estado por georgina de albuquerque
Sessão do Conselho de Estado que Decidiu a Independência, de Georgina de Albuquerque (1922) [Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro]

Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]

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