Nise da Silveira
- Larissa Mancia
- 18 de mai.
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Atualizado: há 4 horas
Pioneira na Humanização de Saúde Mental no País.
Foi pioneira na terapia ocupacional e do movimento antipsiquiátrico no Brasil. Introduziu a psicologia Jungiana e acabou reconhecida no mundo todo por seu trabalho com o inconsciente. Ela era uma mulher pequena e frágil, mas que defendia suas ideias com firmeza. Teve uma infância marcada pelo convívio com animais, uma paixão que levou por toda a vida, chegando a ter 23 gatos ao mesmo tempo em seu apartamento. Mesmo tendo pavor de sangue, ela decidiu ser médica e, na Faculdade de Medicina da Bahia, era a única mulher entre 157 alunos.
Em 1927, a Alagoana mudou-se para o Rio de Janeiro e acabou se envolvendo com o meio artístico e o marxismo, chegando a participar de reuniões do Partido Comunista. Nise foi presa em 1936, denunciada por uma enfermeira por ter livros marxistas, ficando 16 meses reclusa na Casa de Detenção da Rua Frei Caneca. Lá, ela dividiu a cela com Olga Benário e teve contato com o escritor Graciliano Ramos, que a citou no livro "Memórias do Cárcere". A experiência na prisão mudou a vida de Nise para sempre.
Nise da Silveira por Galeria da Lalo e Nise da Silveira em 1970.
Após oito anos, ela foi readmitida no serviço público para trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional, em Engenho de Dentro. Os anos 30 trouxeram muita crueldade para a vida dos doentes mentais, e um dia Nise se recusou a acionar um eletrochoque, e assim começou a sua maior luta contra a psiquiatria tradicional.

Ela foi transferida para uma área desprezada do hospital, que nem médicos tinham: a seção de terapia ocupacional que ela implementou efetivamente em 1946. Antes disso, os pacientes do setor faziam apenas trabalhos de limpeza. Ela criou 17 ateliês, entre eles costura, marcenaria, modelagem e pintura.
Influenciada pelas obras de Jung sobre o inconsciente, ela criou um método reconhecido no mundo todo: incentivar a pintura livre para aos poucos revelar a psique dos pacientes, ajudando no seu tratamento. Nise e seus pacientes começaram a ficar famosos, e incomodar ainda mais os médicos que menosprezavam seu método.
Firme no seu propósito, ela inaugurou o Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952, e hoje, com mais de 360 mil obras. Nise discordava da literatura médica que pregava que esquizofrênicos não tinham afetividade. Ela adotou cachorros e gatos como co-terapeutas, e foi pioneira também nas pesquisas das relações entre pacientes e animais no Brasil. Seus colegas envenenaram alguns dos animais, como forma de boicote. Mas isso não a fez desistir. Ao todo, Nise escreveu 10 livros, e suas ações e métodos foram de extrema importância na luta contra os hospícios, culminando com a lei antimanicomial de 2001.
Aos 83 anos, ela foi a primeira mulher a receber o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela faleceu com 94 anos, cercada de livros e gatos, e deixando um legado que humanizou o tratamento psiquiátrico no Brasil e no mundo.
Direita: Nise da Silveira. Esquerda: Nise e seu encontro com Jung.
Trechos retirados e inspirados no livro Extraordinárias - Mulheres que Revolucionaram o Brasil [Ed. Seguinte I 2019 ]
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